«A arte parasita a vida, tal como a crítica parasita a arte.»
Harry S. Truman

sábado, 5 de novembro de 2011

Woyzeck


A sequência que abre a adaptação de Werner Herzog da famosa peça de Georg Büchner define e condensa todo o filme. O visceral sempre foi o modo de comunicação artístico mais directo, e talvez mesmo o mais eficiente. Mesmo que se trate, para nós, do primeiro contacto com Woyzeck, ao primeiro vislumbre de Klaus Kinski, espojado e espancado como um cão, atarefando-se numa sucessão de movimentos mecânicos como queijo atravessando o ralador, nós sabemo-lo então, sem sombra de dúvida, como se sempre o conhecêramos — aquele ou aquilo é Woyzeck. E em verdade, ele não pode deixar de nos ser familiar: Woyzeck é o homem antigo, e simultaneamente, a promessa do homem moderno, e o seu estrondoso fracasso.